Esses dias no trabalho, já era final do dia, umas 17:30 mais ou menos, começou um zun zun zun na frente do prédio, escutei umas sirenes, logo depois buzinas, mais sirenes e, então, uma vozes:
-“O que será que aconteceu?”
-“Acho que foi atropelamento”
-“Não! Acho que foi assalto.”
-“Será? Tá o maior transito!”
Eu fiquei na minha mesa, procurando por notícias, por joguinhos, por e-mails importantes na caixa de entrada, fiquei lá procurando alguma coisa pro tempo passar logo até dar 19:30 e eu, finalmente, arrumar minhas coisas e ir pra casa.
Muitas sirenes começaram e eu não resisti e fui até a janela do escritório e me deparei com a cena que todos estavam comentando. Tinha uma mulher jogada no chão da praça, o carro, que eu julguei ser dela, também estava dentro da praça, assim não atrapalhando o tão importante transito em pleno horário de rush.
Vários carros do SAMU, ambulância, CET e polícia em volta da moça. Lá de cima só dava pra ver que os bombeiros/médicos estavam fazendo massagem cardíaca na moça arduamente.
Meu chefe, que já estava observando a cena há uns 15 minutos, disse que já estava nesse episódio fazia tempo. Ele estava visualizando a cena pela super tela potente do celular dele que tem sei lá quantas vezes de zoom.
Uma multidão em volta dos médicos e bombeiros e os mesmos em cima da moça. Todos os carros que passavam davam uma paradinha pra olhar o que estava acontecendo.
Ficamos naquele sufoco de tentar entender o que acontecia, na esperança da mulher dar algum sinal de vida por mais uns 20 minutos. Não entendendo bem o que acontecia, até porque estávamos no sexto andar do prédio, voltei pra minha mesa pra atender o telefone que não parava de tocar.
15 minutos mais tarde, percebi que meus colegas de trabalho já não estavam mais tumultuados na janela e fui lá ver se a mulher ainda estava lá. Sim, a mulher ainda estava lá, mas a multidão, os bombeiros, os médicos, o CET e os policiais, não!
Nunca vi uma cena tão fria na minha vida. A moça estava coberta com a manta térmica quase enfiada embaixo do carro, o qual ela estava próxima anteriormente, e ninguém, NINGUÉM por perto! Sozinha!
Fiquei tentando assimilar a situação e ai que fui surpreendida, mais uma vez. Uma senhora se aproxima da manta térmica, retira-a e fica olhando para o corpo da moça, depois de alguns segundos chega um policial gritando para se afastar, dando uma bronca na senhora que logo se afasta e sai andando pela praça como se nada tivesse acontecido.
Um tempo depois, com o vento a manta começa voar e novamente o corpo da moça fica a mostra pra qualquer que passe por lá e, novamente, após de alguns minutos, um policial pega umas pedras e cobre o corpo.
Esse triste fato aconteceu no começo da semana e eu ainda não consegui parar de pensar nele. No dia seguinte ainda escutávamos alguns boatos no elevador do prédio, mas logo foi esquecido pela maioria das pessoas.
Eu não esqueci. Eu não esqueci que aquela pessoa poderia ser um parente seu, uma pessoa próxima e querida e, mesmo não sendo ninguém que eu conhecesse, como o ser humano é tão frio pra deixar um outro largado no meio de uma praça sem o mínimo de respeito a qual esse foi tratado?
Todo mundo é muito solícito pra saber de uma fofoca, pra fazer algum comentário maldoso, mas quando o assunto é amor e respeito ao próximo parece que coisas banais, como o transito e o celular de última geração são bem mais importantes.
Não sei descrever direito o sentimento que me deu ao ver tudo isso e depois ficar sabendo que a moça com aparentemente 35/40 anos, asiática, simplesmente estava dirigindo seu carro, começou a passar mal, entrou dentro da praça e começou pedir ajuda, pois sentia uma dor muito forte no peito passou.
Um dia para nós pode ser o dia para muitos, o melhor dia, o pior dia, o dia, um dia. Esse para mim foi um dia diferente, um dia em que eu parei pra refletir como “jogamos fora” vários dias de nossas vidas com comentários inoportunos, com ações indiferentes, com, simplesmente, dias comuns que não nos trazem nada de bom. O que você faz para o seu dia não ser só um dia?!
Pensei muito sobre isso e para mudar isso. E você?